Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião


Nos últimos anos o Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião da Faculdades EST, organizado pelo Programa de Gênero e Religião e pelo Núcleo de Pesquisa de Gênero, tem se tornado um dos principais espaços de encontro, articulação, debate e produção de conhecimento no campo teológico feminista e dos estudos de gênero no continente. As últimas edições reuniram pessoas ligadas à pesquisa, lideranças e integrantes de grupos e instituições religiosas, movimentos sociais e do campo das políticas públicas de todo o Brasil, de mais de 20 países da América Latina e de outros continentes.

Essas edições também coincidiram com grandes questionamentos e retrocessos movidos por lideranças e grupos conservadores e extremistas em todo o mundo e na região. Muitas dessas lideranças e desses grupos têm se utilizado de temas e questões pautadas pelos estudos feministas, de gênero e da diversidade sexual e pelos movimentos sociais que trabalham essas questões como forma de criar um pânico moral e conseguir a adesão de setores da sociedade para legitimar suas pretensões e ambições de poder, inclusive no âmbito do Estado. A perversa e falsa campanha construída ao redor do que se chamou de “ideologia de gênero” é apenas um dos exemplos com impactos diretos na garantia de direitos e na criação e manutenção de políticas públicas.

Um dos principais veículos utilizados para esse ataque tem sido a religião. As teologias feministas e os estudos críticos de gênero em religião, em suas diversas correntes e perspectivas, têm apontado há muito para o fato de que a religião, particularmente através de instituições, estruturas, dogmas e doutrinas, tem contribuído para a construção das desigualdades e manutenção das violências de gênero. Nesse sentido, vozes autoproclamadas religiosas invadem o espaço público e instrumentalizam suas comunidades defendendo a manutenção de padrões e relacionamentos violentos e injustos no âmbito da diversidade sexual e de gênero através da manipulação de discursos, práticas e símbolos.

Nesse contexto, gênero e sexualidade, misturadas e inter-relacionadas com outras questões, têm sido a ponta de lança para a derrubada de governos, a retirada de direitos e a implantação de regimes autoritários e absolutistas – já instalados ou em vias de – regidos pelos ditames dos mercados. Ao mesmo tempo, o avanço desses grupos e suas políticas não tem sido maior por conta da atuação de movimentos de luta e resistência que carregam consigo o acúmulo de décadas de reflexão e atuação. Além disso, têm emergido novos sujeitos, grupos e organizações, com novas perspectivas e novas formas de organização e atuação no campo feminista e de gênero. Com criatividade, imaginação e rebeldia tem sido possível construir caminhos de resistência e perspectivas que se materializam em muitas conquistas e na esperança que anima a caminhada.

Tendo em vista essas questões, o VI Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião terá como eixos temáticos “Vulnerabilidade – Resistência – Justiça”:

“Vulnerabilidade” é um conceito utilizado no campo das ciências sociais, mas também econômicas e políticas, para discutir questões complexas como a manutenção e o aprofundamento da situação de pobreza vivenciada por maiorias da população mundial e de distintas formas de desigualdade. Além disso, também tem sido empregado no âmbito da psicologia e da teologia para questionar padrões de relacionamento e auto identidade que tem um potencial de questionamento, subversão e transformação das estruturas que geram sofrimento e violência. O VI Congresso quer aprofundar a discussão sobre esse tema a partir da perspectiva feminista e de gênero e em sua relação com a discussão sobre teologia e religião como elemento denunciador de realidades de opressão e dominação e como elemento potencializador de processos de libertação e superação dessas mesmas realidades.

Essa reflexão se conecta com o segundo eixo temático proposto – “Resistência” – entendido tanto como uma realidade à qual indivíduos e grupos sociais são submetidos, quanto como um elemento fundamental para fazer frente aos processos de retrocesso e aprofundamento de práticas e sistemas violentos. A produção do conhecimento no âmbito feminista e de gênero, muitas vezes, ainda se dá como forma de resistência aos saberes hegemônicos. Uma resistência que também é feita da alegria do encontro e da partilha, da rebeldia e da imaginação que cria possibilidades onde não há.

Por fim, essas questões conduzem à discussão sobre “Justiça” como horizonte utópico que orienta a produção do conhecimento e a atuação política. Aqui há questões específicas como a atuação das instituições jurídicas e a promoção de politicas públicas afirmativas que precisam ser refletidas, mas também os projetos de sociedade expressos, por exemplo, na ideia bíblica de “shalom” e “novos céus e nova terra”, no conceito indígena de “bem viver” (sumak kawsay) ou na noção africana do ubuntu. Particularmente, interessa discutir no VI Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião a perspectiva da “justiça de gênero” como conceito e como política que visa a superação de todas as formas de desigualdade, violência e opressão. A justiça não é, nesse sentido, o ponto final, mas a própria esperança que embala a construção de uma outra realidade a partir da imaginação criativa em meio a situações de vulnerabilidade e resistência.

Os três eixos temáticos apontam para questões emergentes no campo da pesquisa e da política feminista e de gênero e permitem uma discussão articulada entre e desde diversas áreas do conhecimento, bem como desde e entre diversos lugares sociais. Além disso, também representam muito bem a caminhada trilhada pelo Núcleo de Pesquisa de Gênero que, em 2019, celebra 20 anos de existência formal no Programa de Pós-Graduação em Teologia da Faculdades EST.

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